Grupo de trabalho formado por órgãos de controle aéreo e representantes de associações de baloeiros busca formas de regulamentar o lançamento dos balões sem fogo. Primeiro evento teste foi realizado no mês passado no Paraná. 

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Historicamente, balão no céu sempre é sinal de alerta máximo para o patrimônio, o meio ambiente e a aviação no Brasil. Agora, o impasse que dura anos entre a Aeronáutica e os baloeiros sobre o tema pode estar próximo do fim.

Um grupo de trabalho formado pela Aeronáutica – Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)- e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e representantes de associações de baloeiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, busca formas de regulamentar o lançamento dos balões sem fogo, os chamados “balões ecológicos”.

Festejos juninos e campanha

Com a chegada da temporada dos festejos funinos, o número de registros de balões no céu do Rio de Janeiro é quase o dobro em relação ao mesmo período do ano passado. Entre maio e 5 de julho de 2016, o Cenipa registrou 38 relatos de avistamentos de balões. Este ano, foram registrados 69.

Em todo o país, no mesmo período, foram 192 notificações também até o último dia 5, um aumento de 52% em relação ao ano passado que teve 126 avistamentos. São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná são os estados com maior incidência de balões.

O órgão tem um programa, o Risco Baloeiro, que foi criado para receber informações sobre atividades que envolvem balões em todo o país. A partir da coleta de informações são realizadas as campanhas de prevenção e conscientização. O programa é permanente e não acontece apenas na época das festas juninas.

Aeronáutica estuda alternativas

Em entrevista ao G1, o brigadeiro Luiz Ricardo de Souza Nascimento, chefe do Decea, disse os números só vêm aumentando e que é preciso buscar alternativas para a diminuição da incidência dos balões.

“Não adianta simplesmente reprimir, ter uma lei que proíbe, a lei existe, mas os números estão aumentando. O que nós estamos testando e fazendo são alguns eventos em uma área controlada com pessoas que querem realmente usar a cultura de um balão ecológico para se divertirem e fazer com que essa cultura seja intensa no Brasil. De forma controlada, mas longe de um aeroporto, com aviso prévio de todos os envolvidos, da polícia, dos aviões e separando uma área exclusiva para isso”, afirmou.

De acordo com o brigadeiro, uma das preocupações é que os balões não são detectados pelos radares. O avistamento é visual e é feito principalmente pelos pilotos. O Centro de Controle do Tráfego Aéreo tem uma planilha que reúne as notificações e os locais dos avistamentos. As informações são divulgadas para alertar outros pilotos e o controle do tráfego aéreo dos terminais.

Apesar da tentativa de controle, o militar diz que tanto o balão de fogo quanto o ecológico oferecem risco de colisão com aeronaves e, por isso, é impossível dizer se um é menos perigoso que o outro.

“O que nós temos que diferenciar são os crimes. Balão com fogo existe um crime específico para ele e o crime do balão ecológico é colocar em risco a navegação aérea, ou seja, se o balão for solto sem o controle, sem uma coordenação ou em área em que está próximo do aeroporto. O crime é igual para nós, para o piloto que está voando. Não existe essa diferenciação, o risco é o mesmo. Nós não podemos ter dúvida disso”.

O responsável pelo Decea ressalta que está aberto a conversas com os baloeiros como forma de buscar saída para diminuir e conscientizar a população sobre os problemas que a soltura indiscriminada de balões podem causar.https://912e3477a869f402cac863aa402e9dcd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

“Não é proibido que a gente converse e que a gente tente achar uma área específica com mecanismos de controle mínimo para os balões e permitir que a associação faça um evento em conjunto com a Aeronáutica, com o Cenipa e com toda a sociedade. Nós temos que ter uma forma concreta e responsável das associações para que a gente consiga colocar em prática”.

  • Balões ecológicos – voam com fonte de calor natural ou artificial. Não tem buchas acesas, como os tradicionais. Quando caem em casas ou na mata, não têm riscos de incêncio. Mas quando estão no ar representam o mesmo perigo para os aviões. Um balão desse tipo pode levar até seis meses para ficar pronto. Este tipo de balão necessita da luz solar para esquentar e de condições de vento favoráveis. Com boas condições climáticas ele alcança boas distâncias.
  • Balões de fogo – além da sua dimensão, levam grande quantidade de explosivos nas chamadas cangalhas. Quando sobe, o balão pode entrar em correntes de ar e ser levado para locais imprevisíveis e chegar a cidades e florestas. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios, inclusive em áreas urbanas, é crime. A pena varia de um a três anos de prisão, além de multa

Baloeiros defendem regulamentação

Os grupos baloeiros que utilizam ao balão ecológico reivindicam a regulamentação da atividade respeitando as regras determinadas e a exibição em festivais, como garantia de segurança e preservação da cultura popular.

Por telefone, o presidente do grupo baloeiro Somos Arte Papel e Cola (Sapec), do Paraná, disse ao G1 que o evento realizado em conjunto com a Aeronáutica, em junho, pode ser considerado um sucesso. O local, a mais de 60 km de Curitiba, reuniu pelo menos 40 baloeiros e seus gigantescos balões coloridos. Autoridades da Aeronáutica acompanharam a exibição.

Os baloeiros tiveram que cumprir alguns requisitos: limite de altura, para delimitar o peso, da distância que o balão podia alcançar e o uso de materiais biodegradáveis. Cargas e material metálico foram proibidos. Os balões foram monitorados para evitar que invadissem rotas aéreas previamente avisadas do evento.

Segundo Egbert Schlogel, após a lei de 1998 que proíbe a soltura de balões sob pena de prisão, muitos baloeiros passaram, aos poucos, a se dedicar aos balões ecológicos, que não usam fogo, uma prática que, ele diz, é comum em vários países.

“É uma manifestação artística e queremos que ela seja regularizada. Não vai acabar, está enraizado. Acredito que com uns dois ou três eventos desse porte por ano se consegue tirar a prática delituosa”, declarou.

Schlogel contou que eles já estão planejando um segundo evento para novembro, no mesmo local.

Evento de balões ecológicos no Rio de Janeiro — Foto: Ronaldo de Senna/SAB

Sociedade Amigos do Balão(SAB), no Rio de Janeiro, tem cinco mil associados e também está mobilizada na discussão sobre a mundança de mentalidade com relação aos balões. Ele diz acreditar que a repressão não é a única saída e considera um avanço os eventos monitorados pela Aeronáutica.

” É um avanço. Estamos quebrando paradigmas e é importante o reconhecimento da cultura popular e a tradição das festas mostrando que baloeiro não é um criminoso e que tem pessoas querendo fazer coisas legais e com segurança. Acredito na mudança de hábitos”, esclarece Marcos Real, presidente da entidade.

Real defende a sua tese lembrando que a atividade é reconhecida como prática cultural em outros países como Portugal, Espanha, México, França e El Salvador. Segundo ele, os baloeiros brasileiros são convidados para participar de eventos religiosos e competições nesses países.

” Nesses locais existe toda uma preoucupação cultural e aqui só se fala em primeiro proibir e por isso é importante mudar a conscientização”, acrescentou.

Segundo ele, a SAB está reunindo documentação e reunindo dados para realizar uma prova de campo em uma área do Rio de Janeiro.

Educação e Prevenção

Funcionário do aeroporto do Galeão recolhe um balão dentro da área do terminal — Foto: Divulgação/Concessionária RIOgaleão

A Concessionária RIOgaleão realizou neste fim de semana um projeto de consna comunidade de Tubiacanga, na Ilha do Governador, que fica no entorno do aeroporto Tom Jobim, para levar atá a comunidade orientações sobre o risco baloeiro. Crianças participaram do encontro que também fez a abordagem de outras atividades ambientais. De acordo com a concessionária, as crianças poderão aprender mais sobre os riscos dessa atividade em quatro aulas diferentes.https://912e3477a869f402cac863aa402e9dcd.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Concessionária RIOgaleão fez evento educativo para as crianças neste sábado — Foto: Aline Massuca/RIOgaleão

Somente em 2017 a equipe da fiscalização de pátio do RIOgaleão fez o recolhimento de 26 balões na área do aeroporto. Foram oito em maio e sete no mês de junho.

A concessionária informou que os balões são recolhidos e passam por verificações para constatar se não possuem alguma identificação e/ou propaganda e em seguida esses dados são repassados para a Polícia Civil. Os avistamentos e recolhimento de balões são notificados ao Cenipa.

Além disso, murais eletrônicos do RIOgaleão, transmitem orientações para os funcionários e trabalhadores do aeroporto informando como proceder ao observar um balão ao redor do terminal aéreo.

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